Foi um sucesso: o VI Congresso Brasileiro de Bioética e o I Congreso de Bioetica Del Mercosur conseguiram trazer a Foz do Iguaçu, Paraná, cerca de 800 pessoas, que nos dias 30 de agosto a três de setembro discutiram vários assuntos relacionados ao mote do evento, Bioética, Meio Ambiente e Vida Humana, em especial, o impacto das biotecnologias modernas no meio ambiente e na Saúde, além de outros vinculados ao universo bioético, como Terminalidade; Dignidade e Pesquisas com Células-tronco Embrionárias.
Compuseram a mesa principal de abertura vários especialistas brasileiros, incluindo o presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), Volnei Garrafa, da Universidade de Brasília (UnB) – que, ao final do evento, se despediu do cargo, dizendo-se absolutamente satisfeito. “Se em 96, no primeiro congresso, juntamos apenas 100 pessoas, a sexta edição contou cerca de 800 inscritos”, comemorou.
Ao seu lado, seu sucessor, José Eduardo de Siqueira, da Universidade Estadual de Londrina (Uel), enfatizou que se tratava de um “congresso de irmãos”, cuja meta era “estreitar os laços de amizade, para construir uma ponte no paradoxalmente rico e sofrido continente latino-americano”. Participaram ainda, entre outros, Christian de Paul de Barchifontaine e Leo Pessini, reitor e vice-reitor do Centro Universitário São Camilo, e Luiz Eduardo Cheida, secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná.
Convidados internacionais
Da ala internacional fizeram parte da mesa principal Alya Saada, especialista em Ciências Sociais e Humanas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura); Marcelo Palacios, Presidente da Sociedade Internacional de Bioética (SIBI); Javier Luna Orosco, coordenador do Comitê Nacional de Bioética da Bolívia e Adela Cortina, catedrática em Ética e Filosofia Política na Universidade de Valência, Espanha e eterna ativista da causa da ética.
Adela, aliás, foi uma das mais simpáticas – e festejadas – figuras do encontro: jamais perdia a esportiva e o bom-humor quando literalmente cercada por leitores de sua – extensa – bibliografia, a exemplo do ocorrido a cada intervalo das palestras. Em sua conferência destacou: o conceito de cidadania é revolucionário, na medida em que exige o “empoderar” dos que são iguais enquanto cidadãos. “A Bioética é um impulso potente para a geração de uma cidadania ativa em nível local e global”, refletiu.
Em breve, o site do Centro de Bioética do Cremesp disponibilizará entrevista exclusiva concedida pela filósofa, além de uma série de conversas com vários nomes estrangeiros da Bioética, como o médico iraniano radicado na Argentina Victor Penchaszadeh (também ferrenho defensor dos direitos humanos), e Tristram Engelhardt Jr, cristão ortodoxo norte-americano e criador de conhecidos conceitos da Bioética, como o vinculado aos “estranhos morais”.
Para Engelhardt sempre existe a possibilidade de alcançar um entendimento ético entre as diversas comunidades morais, de modo que os conflitos de interesse possam ser resolvidos através de argumentos racionais.
Mesas redondas
Para o período da manhã, a organização do Congresso reservou Conferências Comentadas, como Bioética, um impulso para o exercício de Cidadania; Semiótica e os conflitos morais em Bioética Clínica e Bioética e Cristianismo, além de mesas redondas, por exemplo, Cidadania para todos no século XXI e Pela Humanização da Tecnociência.
À tarde, aconteciam várias discussões simultâneas. Uma das mais disputadas – aliás, superlotou a sala Iguaçu do centro de Convenções do Hotel Mabu, que sediou o evento – foi Bioética Clínica, da qual participaram Gabriel Oselka, coordenador do Centro de Bioética do Cremesp, abordando Bioética Clínica e Adolescência; Sérgio Ibiapina Costa, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, regional Piauí, que falou sobre Bioética Clínica e Terceira Idade, e José Roberto Goldim, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cujo tema foi Comitês Hospitalares de Bioética
Cadernos de Bioética do Cremesp
O VI Congresso de Brasileiro de Bioética marcou ainda, no dia 02 de setembro, o lançamento do primeiro volume dos Cadernos de Bioética do Cremesp, fruto de parceria entre o Centro de Bioética e Câmara Técnica Interdisciplinar de Bioética. Agrega fórum e simpósios que trouxeram, respectivamente, Doente Terminal; Destino de Pré-Embriões; Clonagem e Meio Ambiente.
Estiveram presentes ao lançamento o presidente do Cremesp, Isac Jorge Filho – que reiterou o lugar de destaque destinado pela atual diretoria aos temas de Bioética – e os organizadores da publicação, Gabriel Oselka e o conselheiro Reinaldo Ayer de Oliveira, coordenador da Câmara Técnica de Bioética. Também prestigiaram o lançamento e o Congresso os conselheiros Desiré Carlos Callegari (vice-presidente do Cremesp); Luiz Carlos Aiex Alves (diretor do Departamento de Comunicação); Marli Soares (diretora Tesoureira) e Ieda Therezinha do Nascimento Verreschi.
Caminho
Quem deve decidir o que significa o bem-estar do paciente? Até aonde ir? Como ser justo? são algumas das questões vinculadas a raciocínios bioéticos, nem sempre percebidos como tal. Ao adicionar aos Cadernos de Bioética o fórum sobre Doente Terminal, disponibilizando pensamentos variados obtidos a partir das experiências de expositores e plenário, o Cremesp objetivou esclarecer ou, ao menos, sugerir, um caminho a ser seguido.
Num sentido mais abrangente, os demais assuntos abordados, Destino dos Pré-Embriões, Clonagem e Meio Ambiente cedo ou tarde constarão da rotina da maioria dos médicos, pois a Ciência desenvolve-se em ritmo surpreendente.
Após consulta e revisão por parte dos autores, constataram-se poucas modificações em relação às palestras originais, dos anos de 2001/2002, visto que os enfoques continuam bastante atuais. As mínimas alterações ocorreram por demanda especial, como é o caso de inserções em aspectos jurídicos da Reprodução Assistida, motivadas pelo novo Código Civil.
Algumas frases dos palestrantes:
“O governador do Paraná, Roberto Requião, mandou avisar que matava passarinhos quando era criança, mas que, agora, tornou-se um dos grandes lutadores contra os descalabros ambientais. Lembro isso só para dar uma mostra de que, no Brasil, as coisas mudam pelas mãos dos que querem mudar”. Luiz Eduardo Cheida, secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Paraná
“Nos empenhamos pela implantação de um Conselho Nacional de Bioética, que deve discutir moralidades e não política”, Volnei Garrafa, até o Congresso, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
“Possuímos muito conhecimento tecnológico, mas não temos o menor sentido de como usá-lo”. José Eduardo de Siqueira, presidente do Congresso e sucessor de Volnei Garrafa na presidência da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
“Bioética não trabalha com o legalismo e, sim, como a legitimidade” Marcelo Palacios, presidente da Sociedade Internacional de Bioética (SIBI)
“Se um político disser ‘vou fazer você feliz’, tenha a certeza de que o que ele quer é só o seu voto” Adela Cortina, doutora em Filosofia pela universidade de Valência
“Cidadão é aquele que é o seu próprio senhor, não é servo ou escravo. É dono de sua própria vida” Adela Cortina, doutora em Filosofia pela universidade de Valência
“O egoísmo não é individual. É grupal, dentro de uma sociedade organizada”, Javier Luna Orosco, coordenador do Comitê Nacional de Bioética da Bolívia
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