Falece o filósofo e médico que trouxe o conceito de “Estranhos Morais”, pelo pluralismo pacífico em Bioética

Hugo Tristram Engelhardt, professor de História e Filosofia da Medicina na Rice University, nos EUA, e professor emérito da Baylor College of Medicine, morreu no dia 21 de junho, aos 77 anos.

O professor Engelhardt era conhecido principalmente por seu trabalho em Bioética, em especial, aquela que chamou de Bioética Ortodoxa Cristã. Entre os destaques esteve seu livro Os Fundamentos da Bioética, traduzido para o português, publicado em 1998 (Edições Loyola) e disponível na biblioteca do Cremesp. Foi também um dos fundadores do Journal of Medicine and Philosophy e criador de uma série de livros sobre Filosofia e Medicina.

Nascido em New Orleans, EUA, sua primeira profissão foi a Filosofia – formou-se em 1969 pela Universidade do Texas. Em 1972 graduou-se em Medicina, seguindo a carreira de seu pai, mas seu principal interesse acadêmico foi pesquisa em Bioética.

Uma de suas principais colaborações para o campo foi o conceito de “Estranhos Morais”, no qual vislumbra a possibilidade de se alcançar “um entendimento ético ou uma moralidade comum entre as diversas comunidades morais, de modo que os conflitos de interesse possam ser resolvidos através de argumentos racionais”.

No Brasil
Uma das suas apresentações mais marcantes aconteceu no Brasil, em 2005, por ocasião do VI Congresso Brasileiro de Bioética, realizado em 2005, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Depois de proferir palestra sobre a Bioética Cristã no Período Pós-Cristão, o professor concedeu entrevista exclusiva ao site do Centro de Bioética do Cremesp.

Confira abaixo alguns pontos de vista do gentil (e polêmico) Engelhardt, esboçados nesta entrevista (acesse íntegra).

- Quando andamos nas ruas de São Paulo, ou de Houston, no Texas, vemos pessoas fazendo o mesmo: indo trabalhar, para a escola, passeando, mas que acreditam em coisas diferentes – ou simplesmente, que não acreditam em nada. Seria bom, então, estabelecer um ponto de interação entre toda essa gente, uma moralidade secular, uma Bioética secular, que comportasse tolerância e enorme gama de ideias distintas. Só assim chegaremos a um diálogo verdadeiro, capaz de gerar contribuições.

- Se vivêssemos várias vidas em uma única dimensão, deveria haver um espaço eminentemente secular, onde encontraríamos pessoas de diferentes crenças, ou sem qualquer fé. Enfim, precisamos distinguir ideologia de fé. Em um dos meus livros (Fundamentos da Bioética, 1998), focalizo a possibilidade de trabalharmos juntos e pacificamente, ainda que não dividamos a mesma religião ou ideologia. Trata-se da Bioética dos “estranhos morais”.

- A solução contra qualquer atrito é mantermos o respeito e a interação humana, se presumirmos que nossa moralidade possa soar como uma ofensa. É tão simples!

- Médicos sempre acompanham pacientes dos quais discordam, nossos prezados “estranhos morais”, que querem fumar cinco maços de cigarros por dia, não aceitam tratamento de diabetes, não se importam com hipertensão. Têm moralidades diferentes das nossas. O que fazer? Abandoná-los? Evidente que não. Sou um médico, não sou “O Caminho”. Meu papel ético e moral é tratá-los com respeito, apresentar opções.

- Rebatizei o “princípio da autonomia” como o “princípio do consentimento”, para indicar melhor que o que está em jogo não é algum valor possuído pela autonomia ou pela liberdade, mas o reconhecimento de que a autoridade moral secular deriva do consentimento dos envolvidos em um empreendimento comum.

Em tempo: Aqueles que trabalharam (ou trabalham) em Bioética no Conselho Regional de Medicina (Cremesp), ao longo dos anos, se unem neste nota de pesar pela morte de Hugo Tristram Engelhardt. São eles: Reinaldo Ayer de Oliveira; Gabriel Oselka; Clóvis Constantino; Isac Jorge Filho; Antônio Pereira Filho; José Marques Filho e Concília Ortona.


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