Os médicos estão empenhados em levar a Bioética para a beira do leito.
Prova disso é o sucesso que tem alcançado a série de Simpósios sobre Bioética Hospitalar, realizada em várias instituições paulistas, e promovida pelo Cremesp, em parceria com a Sociedade de Bioética de São Paulo: invariavelmente o auditório conta com um número significativo de participantes, interessados nesses dilemas tão freqüentes na realidade de hospitais.
Foi o observado nos mais recentes encontros do gênero, realizados no Hospital Municipal Cármino Caricchio, no Tatuapé, em 16 de junho; Hospital Oswaldo Cruz, em 26 de junho, e no Hospital das Clínicas da USP, em Ribeirão Preto, em 5 de julho. Juntos, os três eventos contaram com uma platéia de cerca de 350 pessoas, dispostas a discutir assuntos que incluíram, entre outros, Reanimação de Crianças em Fase Terminal de Vida; Comunicação e Informação no Âmbito da Saúde e a Responsabilidade Ética dos Residentes nos atos Cirúrgicos e Anestésicos.
E por que tal variedade de temas?
Na opinião de Luiz Alberto Bacheschi, presidente do Cremesp – que dos três eventos citados, compareceu a dois – fica a cargo das comissões de Bioética dos hospitais a tarefa de escolher os assuntos mais debatidos pelo respectivo corpo clínico. “Os temas não têm se repetido, pois dizem respeito a peculiaridades locais”, avalia o presidente, para quem uma das principais vantagens dos eventos é aproximar o debate bioético do ambiente de trabalho dos médicos, profissionais tradicionalmente ocupados.
Evolução
A idéia de se promoverem simpósios de Bioética Hospitalar surgiu justamente da necessidade de ampliar as discussões sobre bioética entre os profissionais de saúde justamente no local para onde convergem duas categorias historicamente envolvidas com a bioética: médicos e enfermeiros, como explica Reinaldo Ayer de Oliveira, coordenador do projeto e conselheiro do Cremesp.
O primeiro desses encontros aconteceu em meados do ano passado. “Trata-se de um projeto em evolução que tem trazido muita satisfação às entidades envolvidas e a aos presentes aos debates, que sempre expressam avaliações positivas”, explica Ayer.
Ao longo de um ano os rumos do projeto foram se aperfeiçoando: entre as novidades estão a tendência a simpósios temáticos, como aconteceu recentemente, por exemplo, no Hospital Oswaldo Cruz, direcionado a Comunicação em Saúde; e no Tatuapé, destinado, em grande parte, a dilemas de final de vida. Este último incluiu, entre outros palestrantes, Gabriel Oselka, coordenador do Centro de Bioética do Cremesp, que trouxe à discussão dois casos clínicos relacionados à pacientes pediátricos.
O primeiro caso, baseado em estudo acadêmico, dá conta de que muitos profissionais optam por não reanimar os pequenos pacientes em situações específicas e gravíssimas, mas anotam o contrário no prontuário. O segundo aborda residente que, por força da hierarquia, é obrigado a realizar as chamadas “medidas fúteis” de prolongamento de vida, ainda que acredite no contrário.
Residentes
Falando-se em jovens médicos, eles foram o foco da mesa-redonda Treinamento de Residentes em Procedimento Cirúrgicos e Anestésicos, coordenada pela conselheira Maria do Patrocínio Tenório Nunes, no simpósio em Ribeirão Preto. “Com certeza, os jovens profissionais demonstram bastante interesse em Ética e Bioética. Estão tendo a oportunidade de reflexões que muitos médicos de gerações anteriores não tiveram”.
Sobre o evento realizado em Ribeirão, Isac Jorge Filho, também conselheiro do Cremesp, (que na ocasião, falou sobre Bioética e Meio Ambiente), só tem elogios. “O colega Reinaldo Ayer teve uma excelente idéia ao criar e estimular eventos em Bioética Hospitalar: em uma época em que o exercício da Medicina se torna cada vez mais tecnológico e menos humanístico, é fundamental que se tenha uma reação forte no sentido da busca do equilíbrio”.
Algumas frases
- Vivemos em uma sociedade que nega a morte. A prova cabal disso é que não há, nos prédios modernos, espaço nos elevadores que caibam macas e caixões. Christian de Paul de Barchifontaine, reitor do Centro Universitário São Camilo, no simpósio no Hospital Municipal do Tatuapé
- Existem muitos temores infundados sobre limitar tratamentos a pacientes em fase terminal, sem chances de cura... Não há sequer um médico processado por parar de insistir inutilmente, desde que, antes, tivesse obteve concordância da família. Gabriel Oselka, coordenador do Centro de Bioética, no simpósio no Hospital Municipal do Tatuapé
- Como serei autônomo (em relação à saúde) se não estiver informado? Paulo Fortes, presidente da SBB, durante simpósio no Hospital Oswaldo Cruz
- A sociedade precisa reservar espaços para os temas de confidencialidade absoluta, aqueles em que a pessoa pode se expor por completo, sem medo de se arriscar. Marcio Fabri, professor do Centro Universitário São Camilo, durante simpósio no Osvaldo Cruz
- A participação das equipes multidisciplinares nas discussões bioéticas vem ao encontro do que se espera para as boas atenções aos pacientes. Isac Jorge Filho, conselheiro do Cremesp, em relação ao simpósio realizado em Ribeirão Preto
Veja mais detalhes sobre o simpósio no Hospital Municipal do Tatuapé
Veja mais detalhes sobre o simpósio no Hospital Oswaldo Cruz
Confira também como foi o simpósio em Ribeirão (site do Cremesp)
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