Um das pioneiras da chamada Bioética Feminista, a médica Fátima de Oliveira, faleceu no dia cinco de novembro, aos 63 anos, vítima de câncer. Era uma das grandes lutadoras brasileiras em defesa da saúde das mulheres –especialmente, pelo direito ao aborto, em nome da autonomia feminina; das políticas de atenção integral; e na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nascida em São Luís, no Maranhão, e radicada em São Paulo e em Minas Gerais, onde atuou como médica do Hospital de Clínicas de Belo Horizonte e dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Fátima foi pesquisadora e intelectual de grande projeção do movimento negro, tendo denunciado e lutado contra o racismo institucional e mortes evitáveis em meio a este contingente. Nos últimos anos havia retornado a sua cidade natal.
Segundo Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), Fátima de Oliveira “enfrentava sem medo a situação que vivemos neste país díspar e complexo e afirmava que ‘é melhor morrer de pé do que viver de joelhos’", externando, em nome da SBB, o sentimento de profunda tristeza. “Perdemos esta lutadora, mas sua postura nos ajudará a persistir em sua luta”.
Além de seu empenho como bioeticista, foi secretária executiva da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; conselheira da Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas e do Caribe (RSMLAC); e participou da elaboração da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Foi ainda colunista de jornal e escritora: o último de seus quatro livros foi um romance sobre aborto em relações de mulheres e padres.
"Urge banir o fascismo da sociedade brasileira", defendeu Fátima em um de seus artigos em que tratou das declarações de deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) durante uma palestra na sede paulista da Hebraica.
Em 2005, fez parte do grupo de cinquenta e duas mulheres brasileiras que concorreu ao Nobel da Paz, do qual também fizeram parte outras ativistas pelos direitos das mulheres e negros, e líderes de minorias indígenas e de camponeses.
“Feminista negra inesquecível”
Em nota divulgada no dia seis de novembro, a ONU Mulheres expressou pesar pela morte da médica, classificando-a como “uma feminista inesquecível”, bem como, elogiando o “legado feminista valoroso” na luta por direitos sexuais e reprodutivos, e suas contribuições em políticas sobre saúde da população afrodescendente.
Fátima “foi um dos principais nomes a se posicionar contra o racismo na saúde, destacando as mortes evitáveis de negras e negros e a falta de capacidade instalada nos serviços de saúde como uma das expressões da discriminação racial”, disse em comunicado a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman.
A dirigente lembrou que a médica “trabalhou com a ONU no processo preparatório da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (Durban, 2001) e na elaboração da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”.
Fontes: ONU Mulheres; Portal Vermelho; e jornal O Tempo
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