15 de Setembro de 2014 | |
Alguns pesquisadores, que são movidos mais pelo fulgor midiático do que pela sensibilidade moral, já perceberam que, se tencionam receber recursos e atrair olhares para seus trabalhos, devem focar, preferencialmente, em assuntos como biologia molecular, manipulação genética, clonagem, células-tronco e neuroética. Não faz tanto tempo assim, os investigadores que se debruçavam sobre o panorama do dia a dia, para examinar os assuntos éticos na área da saúde, tinham outras preocupações. Nos últimos vinte anos do milênio passado, o exame das questões éticas em cuidados paliativos, por exemplo, geravam centenas de artigos, na medida em que, juntos, profissionais da saúde, juristas e filósofos focavam em tópicos tais como a licitude e a eticidade da suspensão de líquidos e nutrientes, diretivas antecipadas, de não reanimação e futilidade terapêutica, entre outros. Não é que os especialistas tenham abandonado tais tópicos, mas eles, claramente, perderam o encanto inicial. Apesar de médicos, epidemiologistas e especialistas em Saúde Pública tratarem a violência, a pobreza, a inexistência de educação, de saneamento básico, a carência de moradia, a falta de emprego e a quebra dos vínculos comunitários como matéria de suma importância, tais assuntos ficam, em regra, muito distantes da tela dos GPSs dos medalhões da bioética, que mais comumente, escrevem sobre os assuntos que afloram nas comunidades desenvolvidas, que refletem as situações particulares desses mesmos locais. Talvez agora, com a grave crise internacional batendo à porta de todos, sem distinção, é provável (e desejável) que mais bioeticistas comecem a se devotar a estas questões, que nos parecem bem mais importantes do que a trivialidade de alguns tópicos favoritos da “moda bioética”. Mas corremos o sério risco de transformar a bioética em mera fonte de entretenimento, em exercício fútil de elegante, mas talvez estéril, argumentação intelectual. É imperioso que não percamos a seriedade e o equilíbrio, e que não cedamos às armadilhas ideológicas dos “furiosos” de plantão, para não sermos acometidos da pior doença que assola a raça humana nos três ou quatro últimos milênios: a hemiplegia mental. * Professor da Universidade Federal de São Paulo e membro da Câmara Técnica de Bioética do Cremesp. (Publicado na íntegra, originalmente, na revista Saúde, Ética e Justiça. 2012;17(2):91- Página inicial do boletim |
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