Um bom exemplo do que está acontecendo no Reino Unido é o caso do paquistanês Nasar Ullah Khan, de 38 anos, portador de insuficiência cardíaca gravíssima e prognóstico de meses (senão dias) de vida. Chegou ao país nove anos atrás com visto de trabalho – cujos trâmites de renovação não foram para frente, em virtude da impossibilidade física do imigrante.
Antes do Natal, perdeu a única e última chance de salvar sua vida, porque, por estar ilegal, não era elegível ao transplante de coração. Agora, o hospital em que está internado, em Birmingham (centro-oeste da Inglaterra), se recusa a fornecer os cuidados paliativos, caso não pague a primeira fatura de £16.000 correspondente a continuidade do tratamento.
“É completamente angustiante imaginar que o paciente recebeu a conta em seu quarto de hospital, depois de ter um diagnóstico terrível”, lamentou Elizabeth Bates, médica da instituição. “Não consigo entender qual é a filosofia administrativa. Claro que estar à frente de um paciente que está morrendo e se recusar a ajuda-lo causa impacto à equipe clínica”.
Ela e os colegas creem que isso vá contra toda ética profissional e o juramento de Hipócrates.
Mudanças nas regras
Antes de 2017, os imigrantes e visitantes do Reino Unido não elegíveis para cuidados gratuitos em saúde tinham direito a recebê-los e ser faturados posteriormente.
Dois anos atrás, em uma tentativa de eliminar o chamado “turismo de saúde” bancado pelo National Health Service (NHS), o governo conservador introduziu novos regulamentos que obrigam a alguns imigrantes – os que têm vistos vencidos, certos cidadãos da UE e da Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, que não estejam estudando ou trabalhando – a pagar, de maneira antecipada. a maioria dos atendimentos.
Eles ainda podem passar por consulta médica de graça, mas devem pagar até 150% do custo de seus cuidados hospitalares, antes de do início do tratamento.
Os pacientes que necessitarem de tratamento hospitalar de urgência e emergência ainda têm direito a ele. No entanto, profissionais de saúde e instituições de caridade dizem que as regras estão sendo desrespeitadas e aplicadas de forma inconsistente.
“Os hospitais estão à deriva”, diz a Dra. Dana Beale, médica do Great Chapel Street Medical Center, em Londres, que se concentra em pessoas desabrigadas. “Ouvi falar de um caso em que um fundo de saúde mental pedia uma lei de impostos municipais, um documento de identidade e uma conta de luz antes de fornecer qualquer tratamento”.
Por outro lado, um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou que cobrar os imigrantes por cuidados de saúde era uma falsa economia e custava mais aos governos. “Os países tendem a usar os custos como uma justificativa para limitar ou atrasar o acesso à saúde dos recém-chegados ou apenas fornecer acesso de emergência", disse o Dr. Santino Severoni, coordenador de saúde pública e migração para a OMS na Europa. “Mas isso não é rentável – a identificação precoce custa menos do que o atraso até o tratamento hospitalar”.
Fonte – The Guardian
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