11-12-2018

Conflitos não declarados 

O que teriam em comum o reitor da tradicional faculdade de medicina de Yale; o novo presidente de um proeminente grupo de pesquisa contra o câncer; e o chefe de um centro de câncer do Texas? 

Segundo notícia dada em primeira mão pelo New York Times, eles estão entre as principais figuras médicas que não revelaram com precisão suas relações com as empresas farmacêuticas. 

Tais lideranças médicas estão entre dezenas de médicos que, nos últimos anos, falharam no momento de relatar suas relações financeiras com empresas farmacêuticas e de saúde, ao publicarem seus estudos em revistas científicas.   

Howard A. Burris III, presidente eleito da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, por exemplo, declarou ausência de conflitos de interesse em mais de 50 artigos em periódicos nos últimos anos – inclusive, no prestigiado New England Journal of Medicine. Ignorou, assim, que as empresas farmacêuticas pagaram-lhe cerca de US$ 114 mil para consultoria e palestras, e que seu empregador recebeu quase US$ 8 milhões para a realização da pesquisa em questão.  

Tais omissões se estenderam ao Journal of Clinical Oncology, publicado pelo grupo que Burrus, em breve, liderará.

Presidente de operações clínicas e diretor médico do Instituto de Pesquisa Sarah Cannon, em Nashville, o pesquisador se defendeu, dizendo que os pagamentos foram feitos diretamente à instituição e não a ele, embora o New England Journal of Medicine exija a divulgação de todos esses pagamentos.

Escândalo e demissão 
A questão ganhou força desde setembro, quando Jose Baselga, médico-chefe do Centro de Câncer Memorial Sloan Kettering, em Nova York, se demitiu depois que o Times e a ProPublica (organização sem fins lucrativos dos EUA que usa o jornalismo investigativo contra condutas antiéticas) informaram que ele não revelou seus laços industriais em dezenas de artigos.

Mas há centenas de outros estudiosos que fizeram o mesmo, como Robert J. Alpern, reitor da Escola de Medicina de Yale. Em artigo sobre droga experimental contra doença renal crônica, se esqueceu de informar que fazia parte do conselho de diretores (e que possuía ações) da empresa farmacêutica que desenvolveu a droga, a Tricida. 

Além dos lapsos generalizados dos médicos, a revisão da ProPublica e do NY Times revelou que os próprios periódicos não examinavam rotineiramente as ligações indevidas dos pesquisadores, embora muitas pudessem ser facilmente detectadas em um banco de dados federal.

Consideradas o principal canal para a comunicação das últimas descobertas científicas ao público, as revistas médicas, muitas vezes, mantêm um vínculo de interdependência com os pesquisadores que publicam em suas páginas. 

“O sistema está quebrado” resume Mehraneh Dorna Jafari, professora assistente de cirurgia na Universidade da Califórnia. Ela e colegas publicaram estudo em agosto, no qual foi destacado que, dos 100 médicos que receberam a maior remuneração dos fabricantes de próteses e outros insumos em 2015, apenas 37% divulgaram conflitos em artigos. 

“As revistas não estão verificando e as regras são diferentes para cada coisa”, lamentou Jafari. 

À medida que o debate continua, o Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas está considerando implantar uma política de punição aos pesquisadores que cometerem grandes erros de divulgação a suas instituições, por possível má conduta em pesquisa.

Preocupações sobre a influência de empresas farmacêuticas na pesquisa médica persistem por décadas. Já em 1959, o senador Estes Kefauver realizou audiências sobre o assunto. Nos anos 2000 as discussões voltaram à tona, após uma série de escândalos envolvendo proeminentes especialistas que não revelaram suas relações com a indústria. 

Fontes: The New York Times, ProPublica e Bioethics.com 


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