Hedda Martin, 60 anos, moradora de Grand Rapids, Michigan, teve um transplante de coração negado, não por motivos físicos ou carência do órgão: ela não tinha condições de arcar com os US$ 10 mil correspondentes às drogas anti-rejeição que seriam necessárias após o procedimento.
O caso de Martin se tornou público pelas mídias sociais, provocando indignação com um sistema de transplantes que vincula finanças ao acesso a um tratamento. Porém, exigir prova de pagamento para transplantes de órgãos e cuidados pós-operatórios é comum, disseram especialistas ao New York Times.
De acordo com Arthur Caplan, bioeticista do Centro Médico Langone da Universidade de Nova York, isso acontece todos os dias: “é o que chamo de ‘biópsia da carteira’”.
Praticamente todos os mais de 250 centros de transplante dos EUA estão envolvidos com um cadastro único nacional de pacientes. Mas exigem dos pacientes que comprovem como cobrirão as contas dos pós-operatórios, “que podem totalizar $ 400.000 para um transplante de rim ou US $ 1,3 milhões para um coração, além de custos mensais de cerca de US $ 2.500 relativos a medicamentos anti-rejeição, que devem ser tomados para a vida”, explica Caplan.
Permitir que fatores financeiros determinem quem fica na lista de espera parece muito injusto. “Dá raiva, porque quando estamos à procura de órgãos, não gostamos de pensar que eles irão apenas para os ricos”, disse o professor. “Na realidade, em grande parte, isso é a pura verdade”.
“Vaquinha”
Em um comunicado, as autoridades vinculadas a transplantes defenderam sua posição, dizendo que recursos financeiros, juntamente com a saúde física e o bem-estar social, estão entre os fatores cruciais considerados na decisão do transplante.
“A capacidade de pagar por cuidados pós-transplante e medicamentos imunossupressores ao longo da vida é essencial para aumentar a probabilidade de um transplante bem sucedido e a longevidade do receptor do transplante", escreveram representantes dos centros de transplantes.
Na luz mais pragmática, isso faz sentido. Mais de 114.000 pessoas estão à espera de órgãos nos EUA e menos de 35.000 órgãos foram transplantados no ano passado, segundo a Rede Unida para Partilha de Órgãos, ou UNOS. Os centros de transplantes querem garantir que os órgãos doados não sejam desperdiçados.
Para Martin, a atenção da mídia social ajudou. Em poucos dias, ela arrecadou mais de US$ 30.000 por meio de uma conta do GoFundMe, e as autoridades da Spectrum Health confirmaram que ela foi adicionada à lista de espera de transplantes.
O mesmo aconteceu dois anos atrás, com o Sr. Mannion, 59 anos, de Oxford, Connecticut, que soube que precisaria de US$ 30.000 no operatório de transplante duplo de pulmão, o que o fez refletir: “você precisa de um órgão vital, o que é algo difícil para qualquer um. Além de tudo, precisa se tornar um angariador de fundos?”.
Em seu caso, amigos e familiares se uniram na arrecadação, em trabalhos em salão de cabeleireiro e organização de torneios de golfe, levantando mais que o dobro de seu objetivo original.
Fonte: New York Times
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